Excelente! O jornal "O Globo" lançou neste domingo de 19 de agosto uma série de reportagens retratando, denunciando e exemplificando as condições às quais são submetidos cotidianamente os moradores de áreas dominadas por narcotraficantes. Tal série foi publicada diariamente e vale a pena todo e qualquer carioca conferir, tendo em vista que a guerra pelo tráfico de entorpecentes não é mais um problema exclusivo de comunidades carentes.
A banalização do consumo de drogas, encabeçado pela polêmica sobre a legalização da maconha, vem a cada dia corrompendo mais e mais jovens de classe média e classe média alta, tão feroz quanto um leão faminto, tão veloz quanto a luz e tão eficiente quanto o tempo, que nunca para.
O interessante é que, propositalmente ou não, essas reportagens estão sendo lançadas simultaneamente ao vazamento do filme "Tropa de Elite", do diretor José Padilha (o mesmo de "Ônibus 174") e com assinatura do Capitão Pimentel (autor do livro "A Elite da Tropa", que inspirou o filme), cuja estréia estava prevista para o final de 2007 e que hoje em dia se encontra facilmente em qualquer barraca de um vendedor ambulante que se preze e queira ganhar dinheiro "honestamente" (não sou contra a pirataria).
Recomendo a todos que assistam ao filme, mas que não o utilizem como única fonte formadora de opinião, afinal o mesmo narra o ponto de vista de um policial humano e portanto, passível de erros. Falta ainda a visão do traficante, do morador das favelas, do consumidor de classe média e de quem não tem qualquer tipo de vínculo com essa rede sombria formada pela relação entre os quatro primeiros personagens citados e os maiores beneficiados com ela, e que por mecherem bem seus pauzinhos foram excluídos do filme-denúncia (políticos, empresários e qualquer pessoa q financie a produção e transporte dos entorpecentes).
O filme além de delatar a corrupção no sistema policial (recebimento de propinas tanto por parte dos traficantes quanto de comerciantes que desejem segurança pro seu estabelecimento, abuso de poder nas dependências internas e inclusive o roubo de peças das viaturas - fato me narrado anteriormente por um amigo que ouvira conversa entre policiais sobre a substituição do motor de uma viatura), procura também justificar a agressividade das incursões policiais baseando-se no nível de stress ao qual são submetidos diariamente. Particularmente não me convenceu. ¬¬
Outra questão que me chocou, e me inspirou a escrever a respeito, é levantada na cena em que o Capitão Nascimento culpa o usuário pela morte de um bandido.
O que gera o tráfico é o consumo ou a proibição? A maconha causa dependência e alterações no estado emocional do consumidor, mas e o álcool? TAMBÉM!
De acordo com o site ComCiência, cerca de 11% da população brasileira é dependente de bebidas alcoólicas, 9% de tabaco e 1% de maconha. Já o site da Coordenadoria Anti Drogas do Paraná diz que 20 a 25% dos brasileiros têm problemas com álcool, sendo 10% destes dependentes e o restante responsáveis pelo chamado "padrão nocivo de consumo" (aqueles que exageram e causam acidentes de trânsito, arrumam brigas sem motivo, etc).
Já imaginaram se o álcool fosse proibido no Brasil, o contingente de traficantes de cachaça que existiria? =D Então não venha me dizer que o culpado pela guerra é aquele que consome, e sim o que proíbe! >_<
Não concordo nem um pouco com MV Bill quando diz "seu vício é que me mata, seu vício me sustenta" (faixa 2 do cd Falcão, O Bagulho É Doido). É o vício que o mata ou a necessidade de ganhar dinheiro aliada à falta de qualificação profissional para que isso ocorresse de forma honesta? O adolescente segura um fuzil e uma carga de cocaína durante doze horas seguidas para conseguir ter o seu "tênis de mola" (Nike Shox), pra ter um casaco da Puma, uma camisa da Tommy Hilfiger, etc.
Mas não fomos eu e você que impusemos a eles esses conceitos. Somos todos frutos de uma sociedade selvagemente consumista e exclusora, onde você é o que você tem e portanto não pode se misturar com pessoas que não se assemelhem a você! Na lapa o policial encrencou porque o menor de rua não poderia estar junto de nós, "filhinhos de papai". Ignorante por si só, não acreditou que já o conhecíamos há anos e que o fizemos parar de cheirar cola no passado. Esse problema tá guardado no bolso já, fato superado. Voltando ao assunto, ninguém deseja ser um excluído, certo? A diferença é que eu tive uma boa educação tanto na escola quanto na minha família, o que foi primordial para a criação de conceitos que jamais me permitiriam preferir "viver pouco como um rei do que muito como um zé" (Racionais MC´s).
E a solução está na educação por acaso? Óbvio! Quem tem estudo tem dinheiro, quem tem dinheiro não precisa traficar. "Ah, mas os alunos não querem nada com escola!"... Vai estudar em uma escola pública comum e volta aqui pra me responder se você vai querer alguma coisa também. Minha mãe é professora do Município do Estado, sei bem o que estou dizendo.
Até porque, em quê interessaria à elite dominante a formação de uma população pensante? Os universitários dos anos 60 até início dos 90 já deram trabalho demais a eles. 'Panis et Circus' mermão! Funcionava tão bem no Império Romano, porque mudar então? Restaurante de um real e show na praia pra calar a boca de uma populaçaõ sofredora. É muito melhor doar Sardinha do que ensinar a pescar Roballo ;) Parabéns Rosinha, você é o ícone do 'Pão e Circo' contemporâneo.
Em suma, escrevi isso tudo procurando esclarecer alguns pontos e debater alguns conceitos do filme que eu não concordei. Peço a todos que não cuspam pro alto, pois talvez um dia teu filho não possa fazê-lo por estar com a boca seca demais huaeha. E não comprem idéias; pesquisem e formem a sua própria!
Um abraço a todos que leram até aqui! =D